Conhecida como uma das principais e mais premiadas produtoras de áudio do país, a Cabaret tem ido além da entrega de projetos comerciais para também trazer reflexões sobre o uso da música e do som na publicidade. Em meio à crescente tendência de peças mais silenciosas, sensoriais e com poucos elementos sonoros, o estúdio propõe uma discussão mais aprofundada sobre o que, de fato, é o minimalismo na música e como ele vem sendo interpretado (e muitas vezes confundido) no mercado.
Com trilhas compostas para grandes marcas e agências do país, a Cabaret tem explorado há 15 anos, mesmo nas propostas mais sutis, trilhas que despertam emoções através de diferentes texturas e camadas sonoras. Segundo o sócio e compositor Guilherme Azem, há uma tendência atual de associar o minimalismo à ausência de informação musical. Mas, do ponto de vista técnico, o conceito muito além disso. “Minimalismo na música é um movimento como o romantismo, o classicismo, o barroco. O ponto central é trabalhar a partir de uma ideia musical mínima e, a partir dela, criar as mais diversas variações e iterações”, explica.
Essa visão se distancia da estética de trilhas chamadas ASMR ou ambient music, estilos que, apesar de frequentemente associados ao minimalismo, possuem finalidades e características distintas. “Ambient music não é música ambiente. Ela pode ser relaxante ou perturbadora, dependendo do ambiente que se quer criar. Ela prioriza a textura à forma e estrutura baseada em movimentos longos e em geral lânguidos. Já o ASMR é 100% funcional, baseado no som real, na função das coisas, em sua grande maioria ausente de sentimento”, afirma Azem.
Para ele, o uso dessas trilhas “naturais”, onde sons reais e próximos são explorados com pouquíssima intervenção musical, reflete mais um retrato da sociedade do que uma escolha artística. “É satisfatório porque é relaxante. Não pensar em nada é extremamente relaxante. Quanto menos informação, mais relaxante é. É também uma forma de tentar trazer o produto para o mundo real. Parece mais verdadeiro, e, portanto, mais confiável”, reflete, associando a tendência a um efeito típico de tempos de atenção reduzida.
Ainda que reconheça o espaço dessas linguagens no audiovisual, Guilherme pondera que o minimalismo enquanto proposta criativa, demanda elaboração e profundidade. Ele cita artistas como Steve Reich, Philip Glass e Arvo Pärt, compositores que partiram de ideias rítmicas ou melódicas mínimas para construir universos sonoros densos e complexos. “Cada um tem seu próprio estilo e sua própria definição, mas os três respeitam essa mesma ideia de partir de algo simples e, a partir disso, construir camadas e transformações”, afirma.
No universo publicitário, é normal ver a música sendo usada só como pano de fundo, e com isso, perde-se boa parte da força que poderia ter. “A meu ver a trilha sonora em geral, seja em conteúdo, mas principalmente na publicidade, tem muito pouco caráter melódico, menos riqueza rítmica e harmônica, pelo simples fato de que a atenção é dividida”, observa. Ou seja, para não competir com a imagem ou com a mensagem, a música é simplificada.
Mesmo dentro dessas restrições, a Cabaret prefere propor soluções que mantenham densidade sonora, ainda que de forma sutil. Na visão da produtora, o minimalismo não significa falta, mas uma decisão estética com direção e intenção claras. “O que a maioria entende como minimalismo é o menos. A simplicidade. Em outro movimento cultural, principalmente na arquitetura e design temos o axioma forma serve a função, onde a funcionalidade é priorizada. Hoje, ao contrário, sinto que muitas vezes vemos peças que não têm nem função, nem emoção, temos apenas a forma, só a estética da simplicidade pelo consumo”, pontua Guilherme Azem.
Em um cenário cada vez mais saturado de mensagens rápidas e sons funcionais, o estúdio aposta na complexidade emocional como ferramenta de diferenciação e conexão real com as pessoas. A proposta da Cabaret é resgatar o papel da trilha como elemento narrativo, mesmo nos casos em que o som parece quase não existir. “Mesmo em peças mais silenciosas, buscamos criar atmosferas que sustentem a mensagem com intenção e sensibilidade. Não se trata de colocar menos sons, mas de colocar os sons certos com profundidade e significado”, conclui. https://www.cabaretstudio.com.br/