A The Brazil Conference & Expo não é só mais uma feira do agro. É um reencontro entre quem planta, quem colhe, quem embala, quem transporta, quem sonha com o campo e quem o transforma em negócio, tudo sob um mesmo teto (ou quase isso, porque o agro mesmo prefere o céu aberto).
Em meio a corredores perfumados de maçã gala, mamão papaia, manga e a sensação do momento, o morango, o que se via era um festival de sotaques, mãos calejadas e olhares atentos. Gente que entende o peso de uma geada fora de hora e a alegria de ver um pé de fruta carregado.
Tem tecnologia? Tem.
Drone, QR code, inteligência artificial e um monte de buzzwords.
Mas também tem o José, do interior da Bahia, mostrando fotos da lavoura no celular, orgulhoso como se estivesse mostrando o neto.
Mas o que mais chama atenção, entre um suco de uva e uma conversa sobre logística, é o brilho nos olhos de uma nova geração que chegou com os pés sujos de terra e o olhar cheio de futuro.
Gente que cresceu ouvindo histórias da lida no campo, mas também estudou fora, fez MBA, visitou feiras internacionais e entendeu cedo que o que trouxe a empresa da família até aqui, não é o que vai levá-la adiante.
São os filhos e netos dos fundadores assumindo os negócios com o mesmo respeito pelas raízes, mas com a coragem de podar o que já não dá fruto.
Eles sabem que cultivar a terra continua sendo essencial, mas cultivar marca, reputação e relacionamento é o que vai garantir a próxima safra.
Eles falam de branding como quem fala de irrigação. Entendem que não basta ter o melhor produto: é preciso fazer o mercado sentir orgulho de comprá-lo.
Porque, no fundo, a feira é isso:
uma indústria a céu aberto, reunida num espaço fechado pra provar que o campo também sabe fazer feira bonita, e estratégica de marca.
É lá que o produtor encontra o distribuidor, o pequeno empreendedor se conecta com exportadores, e todos descobrem que o futuro do FLV é verde, resiliente e teimoso, do jeito que o agro é.
Se chover, a feira segue.
Se o preço cair, eles replantam.
Se faltar luz, tem gerador.
Se faltar esperança, tem cafezinho, abraço, conversa e alguém dizendo:
“Ano que vem a gente volta mais forte.”
Afinal, quem cultiva a terra sabe:
a colheita vem, mas só pra quem acredita que vale plantar.
Afonso Abelhão