O agro sempre foi espelho do tempo. E o tempo está mudando. As mudanças climáticas já não são um capítulo distante: são a chuva que chega quando não devia, o sol que castiga quando não precisa e o terroir que, confuso, parece sofrer de crise de identidade. Onde antes brotava café, amanhã pode nascer soja. A terra pede adaptação, e o agro responde com criatividade.
“Quem planta inovação, colhe futuro.” Essa será a máxima dos próximos anos. Drones, satélites, sensores e dados vão se juntar ao arado, ao cavalo de tração e à sabedoria do agricultor. Mas é bom lembrar: sem gente, a tecnologia é só ferramenta esquecida no galpão.
O consumidor também mudou. Quer saber se a cenoura da salada foi plantada com respeito ao solo, se o leite do cappuccino veio de vaca bem cuidada e se a fruta que adoça o suco deixou rastro de carbono pelo caminho. Não basta encher o prato: é preciso encher de sentido.
E, convenhamos, o agro está em quase tudo. Está no algodão da camiseta que a gente veste na pressa, no couro do tênis que encara as ruas e estradas por vezes esburacadas, no etanol que move o carro até a escola das crianças, até no bioplástico que protege o celular da queda no chão. O agro parece invisível no dia a dia, mas é essencial em cada detalhe.
O Brasil, com suas terras, sua água e seu sol generoso, tem diante de si a oportunidade de ser mais do que celeiro: ser maestro. Liderar a sinfonia que une produtividade e sustentabilidade, quantidade e qualidade, tradição e inovação. Transformar resíduos em riqueza, energia em rotina limpa, ciência em alimento.
“Quem olha para a terra, enxerga o mundo.” Essa é a visão. Mas também é um aviso: o crescimento populacional exige mais comida, mais fibras, mais energia. E, ao mesmo tempo, exige menos impacto, mais cuidado, mais responsabilidade.
O futuro do agro não será apenas digital, será profundamente humano. Porque nada substitui a experiência da mão calejada que sente o ponto do grão ou o olhar que reconhece a chuva pelo cheiro da terra molhada.
E então, fica a pergunta: o agro do futuro será um gigante tecnológico que esqueceu suas raízes ou um guardião da vida que aprendeu a florescer no mundo digital? Talvez a escolha esteja na próxima semente que decidirmos plantar.
E quando essa semente brotar, que seja num campo onde drones iluminados e vaga-lumes dancem juntos no céu, prova de que a tecnologia e a natureza podem, enfim, brilhar em harmonia.
Afonso Abelhão é fundador e CEO da agência BigBee, presidente da APP BRASIL, e conselheiro do IVC.
