De 22 de fevereiro a 1º de maio, a Japan House São Paulo apresenta obras de 55 ilustradores e artistas gráficos japoneses na mostra “WAVE – Novas correntes nas artes gráficas japonesas”. Gratuita e inédita no Brasil, a exposição traça um panorama dos principais artistas gráficos atuantes no Japão de hoje – muitos ainda desconhecidos no exterior – que produzem obras de diferentes estilos e temas, veiculadas não somente no cenário tradicional das artes, mas também em mangás, animações e peças publicitárias.
Sob a curadoria dos artistas Kintato Takahashi e Hiro Sugiyama – que também terão seus trabalhos expostos no segundo andar da instituição na Avenida Paulista -, a mostra é baseada na WAVE, realizada anualmente em Tóquio desde 2018, que visa apresentar as obras dos principais nomes atuantes no país. A seleção feita para as mostras nas Japan House apresenta o rico e variado trabalho destes artistas, mostrando como suas criações para livros, revistas, animações, pôsteres e outras plataformas se estendem para muito além dos mangás e animes, já conhecidos pelo público brasileiro. Na seleção, artistas consagrados, alguns celebrados por fundar movimentos artísticos, como Teruhiko Yumura (1942), Akira Uno (1934) e Keiichi Tanaami (1936), estão ao lado de jovens promessas como Masanori Ushiki (1981) e Mayu Yukishita (1995). Os temas apresentados na exposição variam desde os personagens inspirados no folclore japonês de Ayako Ishiguro (1973), as paisagens de verão brilhantes de Hiroshi Nagai (1947), até os retratos assombrosos de Masaru Shichinohe (1959). “A arte gráfica e a ilustração têm uma longa história no Japão e são forças vibrantes na cultura japonesa atual. Embora muitos artistas do pós-guerra tenham sido influenciados pela arte e mídia ocidentais, os artistas gráficos e ilustradores de hoje são inspirados por várias fontes diferentes, incluindo pinturas japonesas tradicionais e xilogravuras ukiyo-e, arte popular, fotografia, arquitetura, fantasia e pop art”, explicam os curadores e artistas Kintaro Takahashi e Hiro Sugiyama. A mostra em cartaz na Japan House São Paulo faz parte do projeto global de itinerância da Japan House com passagem pelas três sedes da instituição ao redor do mundo: Los Angeles, São Paulo, e se encerra em Londres. Exclusivamente em São Paulo, a exposição contará com recursos de acessibilidade como audiodescrição, libras e elementos táteis desenvolvidos exclusivamente para 12 das obras apresentadas. A iniciativa é parte do JHSP Acessível, programa com o propósito de criar oportunidades equitativas para que todos realizem uma imersão completa nos conteúdos apresentados na instituição. Estilos que influenciam as artes gráficas japonesas contemporâneas WAVE apresenta artistas veteranos e as novas promessas que trabalham com diversos estilos. Abaixo, alguns dos mais influentes: A ilustração das histórias em quadrinhos japonesas, conhecidas como mangá, tem raízes profundas em pergaminhos pintados no século XII, livros e impressões de xilogravura pré-modernos e revistas do início do século XX. Após a Segunda Guerra Mundial, por influência dos quadrinhos e desenhos animados estadunidenses, desenvolveu-se um moderno estilo de mangá com convenções visuais que ainda hoje estão presentes em histórias em quadrinhos e desenhos animados japoneses, os anime. O popular estilo mangá/anime apresenta linhas fortes, balões de diálogo expressivos, enquadramentos singulares e efeitos abstratos de fundo que transmitem a atmosfera do momento. Os personagens ganham olhos grandes, bocas pequenas e detalhes emotivos, como gotas de suor para mostrar ansiedade, veias saltadas para raiva e linhas paralelas fortes para demonstrar horror ou repulsa. Nesta exposição, alguns dos artistas que trabalham com esse estilo são Kenichiro Mizuno, Katsuya Terada e Motohiro Hayakawa. Na década de 1970 teve início um movimento de mangá underground com a revista Garo, na qual os artistas criavam ilustrações que intencionalmente pareciam mal desenhadas em comparação com a estética elegante do mangá popular. Conhecido como heta-uma (“mal desenhado, mas bem concebido”), o estilo foi liderado e promovido por Teruhiko Yumura, Yoshikazu Ebisu e Takashi Nemoto. Esse estilo validou o trabalho de muitos dos jovens artistas gráficos e de mangá contemporâneos, cujas obras parecem pouco lapidadas, mas são muito expressivas do ponto de vista emocional. Nesta exposição, embora seu estilo seja altamente refinado, a artista Suzy Amakane aderiu ao espírito do heta-uma. O movimento pop art, que surgiu na década de 1950 nos Estados Unidos e no Reino Unido, chegou ao Japão logo em seguida. A habilidade de Andy Warhol de unir o mundo da arte comercial com as belas-artes inspirou Keiichi Tanaami, cujos designs ousados e dinâmicos são repletos de figuras oníricas, temas populares e personagens poderosos. Nessa mesma linha, as cenas fantásticas de batalhas de Motohiro Hayakawa evocam a pop art psicodélica dos anos 1960 e 1970. As imagens brilhantes de Harumi Yamaguchi de mulheres fortes e livres enfeitaram as campanhas publicitárias japonesas nas décadas de 1970 e 1980, enquanto as cenas vívidas à beira da piscina de Hiroshi Nagai tornaram-se imagens icônicas, exibidas em capas de álbuns da década de 1980. O movimento do fotorrealismo foi desenvolvido nos Estados Unidos nas décadas de 1960 e 1970 a partir da pop art, especialmente em resposta ao expressionismo abstrato e à profusão da fotografia. Também inspirou artistas japoneses, entre os quais Hajime Sorayama, que retratou robôs femininos e dinossauros mecânicos com detalhes luminosos, e Yoko Kawamoto, que transforma pilhas de sucata e pedreiras em paisagens hiper-realistas. Recentemente, Mayu Yukishita tem recriado uma realidade mais sombria com suas pinturas “super-realistas”.