As exportações do agronegócio brasileiro podem estar prestes a enfrentar um novo e severo desafio: o presidente Donald Trump tem sinalizado a intenção de aplicar uma tarifa de até 50% sobre importações brasileiras. Em um país onde a economia do campo é motor de crescimento e superávit comercial, a ameaça acende um sinal vermelho, mas também abre espaço para reinvenção estratégica.
O agro e a geopolítica: quando o campo sente o peso das decisões externas.
Historicamente, o Brasil é um dos maiores exportadores mundiais de produtos agrícolas, soja, milho, laranja, manga, café, carne bovina e suína, entre outros. Os EUA figuram entre os principais compradores. Com a taxação, parte dessa engrenagem pode travar, abrindo precedentes para perda de mercado, redução de margem e desestímulo à produção.
O problema, no entanto, não se resume ao impacto econômico direto. A medida de Trump reflete uma disputa maior por hegemonia política e comercial global, onde o Brasil, por ser potência agrícola, vira alvo estratégico. Nesse contexto, o país precisa mais do que diplomacia: precisa de criatividade e adaptação.
Desafios climáticos: a nova geografia do agro brasileiro.
Enquanto o comércio exterior pode sofrer pressão política, o clima impõe desafios cada vez mais físicos e imperativos. A irregularidade de chuvas, o avanço da seca no Centro-Oeste, geadas fora de época e o aumento de temperaturas mudam a produtividade e deslocam o mapa agrícola do país.
Municípios antes considerados estáveis hoje enfrentam riscos elevados, exigindo do produtor capacidade de adaptação, planejamento logístico e novas estratégias de plantio. A tecnologia e o acesso à informação tornam-se vitais, e a geografia do agro, até então previsível, passa a ser dinâmica e vulnerável.
Corrida da ciência: desenvolver para resistir.
Em paralelo, há uma verdadeira corrida contra o tempo nos laboratórios de genética agrícola. A biotecnologia está no centro da estratégia nacional: o desenvolvimento de sementes mais resistentes a pragas e intempéries climáticas, o controle biológico de doenças e a digitalização do campo podem ser a diferença entre prosperar ou ruir diante da pressão externa e interna.
A ciência se torna o novo arado. Mas exige investimento contínuo, articulação com universidades, startups agrotechs e incentivo governamental. Tecnologia de ponta no campo é soberania.
Pragas, desmatamento e epidemias: o custo da má reputação ambiental.
Além do clima e da política internacional, há um fator silencioso que mina as exportações brasileiras: a imagem ambiental. A devastação da Amazônia, muitas vezes vinculada ao avanço ilegal da fronteira agrícola, afeta diretamente acordos com a União Europeia, Ásia e outros mercados exigentes.
Mais do que discursos, os países compradores cobram rastreabilidade, compromisso com a sustentabilidade e preservação do bioma. O avanço das queimadas e a proliferação de pragas e zoonoses em áreas degradadas não apenas geram risco sanitário, mas colocam em xeque toda uma cadeia de valor.
Exportar carne, soja ou milho hoje exige credibilidade verde. E o produtor brasileiro, pressionado por clima, dólar e custos, precisa fazer parte dessa virada. Enquanto isso repercute no mundo a aprovação pela Câmara, o projeto de lei (PL) 2.159/2021, conhecida popularmente como PL da Devastação. Dificultando ainda mais a imagem da marca Brasil para exportação.
Criatividade como resposta: o agro precisa se comunicar como nunca.
Assim como a indústria da comunicação se reinventou diante de transformações digitais, o agronegócio também precisa apostar em criatividade, reposicionamento e inovação narrativa.
Os caminhos possíveis incluem:
- Diversificação de mercados: explorar novos acordos com países da Ásia, Europa, África e Oriente Médio.
- Valorização das marcas do campo: transformar o produtor em protagonista, mostrar boas práticas e criar narrativas de sustentabilidade.
- Diplomacia agrícola moderna: promover ações de soft power no exterior, combinando ciência, cultura e agro.
- Adoção de selos verdes e ESG: como diferencial de competitividade no mercado internacional.
- Investimento em marketing institucional: reforçando que o Brasil pode ser potência sem desmatar, exportador sem degradar.
A comunicação, aqui, não é perfumaria, é estratégia de sobrevivência e reputação.
Hora de plantar soluções.
O agro brasileiro está diante de uma encruzilhada. Entre tarifas externas, clima hostil, pragas e pressão ambiental, o setor precisa de visão estratégica, criatividade e união entre ciência, comunicação e produção. É fato que as relações comerciais com os EUA tem potencial para desdobramentos no longo prazo.
A resposta à taxação de Trump e aos desafios climáticos não será imediata, mas ela começa agora, com cada decisão tomada no campo, no laboratório e nos corredores diplomáticos.
Como no campo, é hora de plantar novas ideias para colher um futuro mais resiliente e sustentável.
Afonso Abelhão é fundador da agência BigBee e Presidente da APP Brasil.
Agro brasileiro sob pressão: caminhos criativos em tempos de incerteza
As exportações do agronegócio brasileiro podem estar prestes a enfrentar um novo e severo desafio: o ex-presidente Donald Trump tem sinalizado a intenção de aplicar uma tarifa de até 50% sobre importações brasileiras. Em um país onde a economia do campo é motor de crescimento e superávit comercial, a ameaça acende um sinal vermelho, mas também abre espaço para reinvenção estratégica.
O agro e a geopolítica: quando o campo sente o peso das decisões externas
Historicamente, o Brasil é um dos maiores exportadores mundiais de produtos agrícolas, soja, milho, laranja, manga, café, carne bovina e suína, entre outros. Os EUA figuram entre os principais compradores. Com a taxação, parte dessa engrenagem pode travar, abrindo precedentes para perda de mercado, redução de margens e desestímulo à produção.
O problema, no entanto, não se resume ao impacto econômico direto. A medida de Trump reflete uma disputa maior por hegemonia comercial global, onde o Brasil, por ser potência agrícola, vira alvo estratégico. Nesse contexto, o país precisa mais do que diplomacia: precisa de criatividade e adaptação.
Desafios climáticos: a nova geografia do agro brasileiro
Enquanto o comércio exterior pode sofrer pressão política, o clima impõe desafios cada vez mais físicos e imperativos. A irregularidade de chuvas, o avanço da seca no Centro-Oeste, geadas fora de época e o aumento das temperaturas mudam a produtividade e deslocam o mapa agrícola do país.
Municípios antes considerados estáveis hoje enfrentam riscos elevados, exigindo do produtor capacidade de adaptação, planejamento logístico e novas estratégias de plantio. A tecnologia e o acesso à informação tornam-se vitais, e a geografia do agro, até então previsível, passa a ser dinâmica e vulnerável.
Corrida da ciência: desenvolver para resistir
Em paralelo, há uma verdadeira corrida contra o tempo nos laboratórios de genética agrícola. A biotecnologia está no centro da estratégia nacional: o desenvolvimento de sementes mais resistentes a pragas e intempéries climáticas, o controle biológico de doenças e a digitalização do campo podem ser a diferença entre prosperar ou ruir diante da pressão externa e interna.
A ciência se torna o novo arado. Mas exige investimento contínuo, articulação com universidades, startups agrotechs e incentivo governamental. Tecnologia de ponta no campo é soberania.
Pragas, desmatamento e epidemias: o custo da má reputação ambiental
Além do clima e da política internacional, há um fator silencioso que mina as exportações brasileiras: a imagem ambiental. A devastação da Amazônia, muitas vezes vinculada ao avanço ilegal da fronteira agrícola, afeta diretamente acordos com a União Europeia, Ásia e outros mercados exigentes.
Mais do que discursos, os países compradores cobram rastreabilidade, compromisso com a sustentabilidade e preservação do bioma. O avanço das queimadas e a proliferação de pragas e zoonoses em áreas degradadas não apenas geram risco sanitário, mas colocam em xeque toda uma cadeia de valor.
Exportar carne, soja ou milho hoje exige credibilidade verde. E o produtor brasileiro, pressionado por clima, dólar e custos, precisa fazer parte dessa virada.
Criatividade como resposta: o agro precisa se comunicar como nunca
Assim como a indústria da comunicação se reinventou diante de transformações digitais, o agronegócio também precisa apostar em criatividade, reposicionamento e inovação narrativa.
Os caminhos possíveis incluem:
- Diversificação de mercados: explorar novos acordos com países da Ásia, Europa, África e Oriente Médio.
- Valorização das marcas do campo: transformar o produtor em protagonista, mostrar boas práticas e criar narrativas de sustentabilidade.
- Diplomacia agrícola moderna: promover ações de soft power no exterior, combinando ciência, cultura e agro.
- Adoção de selos verdes e ESG: como diferencial de competitividade no mercado internacional.
- Investimento em marketing institucional: reforçando que o Brasil pode ser potência sem desmatar, exportador sem degradar.
A comunicação, aqui, não é perfumaria, é estratégia de sobrevivência e reputação.
Hora de plantar soluções
O agro brasileiro está diante de uma encruzilhada. Entre tarifas externas, clima hostil, pragas e pressão ambiental, o setor precisa de visão estratégica, criatividade e união entre ciência, comunicação e produção. É fato que as relações comerciais com os EUA têm potencial para desdobramentos no longo prazo.
A resposta à taxação de Trump e aos desafios climáticos não será imediata, mas ela começa agora, com cada decisão tomada no campo, no laboratório e nos corredores diplomáticos.
Como no campo, é hora de plantar novas ideias para colher um futuro mais resiliente e sustentável.

