Muito ajuda quem não atrapalha. Ouvi diversas vezes da minha mãe esta frase, mas ela nunca se encaixou tão bem quanto neste momento: difícil não é vender uma empresa brasileira séria na Europa, difícil mesmo é ter que pegar carona na marca Brasil nos últimos tempos.
A Fruit Logística nem começou aqui em Berlim, e nas reuniões e nos encontros em cafés que antecedem a maior feira de frutas e legumes no mundo, há uma pergunta recorrente: e a questão dos povos originários?
Isso tem a ver mais com a marca Brasil do que com uma empresa que muitas vezes exporta commodities, mesmo porque a Europa como um todo, e a Alemanha em especial, leva muito a sério a cadeia produtiva e o comércio justo, e os seus consumidores são muito sensíveis a esse tema. Com a cobertura da mídia internacional à situação dos ianomâmis, o assunto é inevitável, mesmo que a sua produção esteja a quilômetros das aldeias.
Para as empresas brasileiras que seguem rigorosos critérios de qualidade, com processos internos que garantem um produto sadio e saudável do ponto de vista humano, é mais fácil apresentar a jornada e a rastreabilidade da fruta – da semeadura ao consumidor final.
É especialmente interessante compreender a dinâmica do comércio exterior, as suas idiossincrasias, rituais, valores e as relações com as marcas.
Cabe ao governo reverter o mal-estar causado, com ações concretas – e menos discurso – para que a marca Brasil circule novamente como a protagonista que é, especialmente no agronegócio.
A feira oficialmente só começa amanhã, mas já mostra em seus corredores, cafés e encontros na KaDeWe que espera mais do que discurso, espera ações, em especial do governo.
Não tenho dúvidas de que será uma grande oportunidade para as empresas expositoras apresentarem os seus processos de produção e rastreabilidade, com produtos saudáveis ambiental e socialmente, e em especial o valor das suas marcas.
Afonso Abelhão é sócio e CEO da agência BigBee.