A FENAPRO (Federação Nacional das Agências de Propaganda), a ABAP (Associação Brasileira de Agências de Publicidade) e a ABRADI (Associação Brasileira de Agentes Digitais) estão dando início a uma ação coordenada para discutir e alertar o mercado sobre o impacto que o excesso de demandas da parte dos clientes está causando sobre as equipes das agências, em função dos pedidos em prazos exíguos e inviáveis, fora do horário útil, destacadamente a partir da pandemia.
“As agências têm sido pressionadas para desenvolver um número de ações para entrega em prazos da noite para o dia, que se acentuaram com a pandemia. O trabalho se intensificou sob todos os aspectos, devido à dinâmica mais intensa das ações online, enquanto, paradoxalmente, houve uma redução da remuneração dos clientes nesse período, gerando um desequilíbrio nas condições para o atendimento dessas demandas”, alerta Daniel Queiroz, presidente da FENAPRO.
Ele explica que o trabalho aos clientes demandou uma mudança de estratégias, em face da dinâmica de produção das peças digitais, com um acentuado descompasso entre as demandas e os prazos requeridos. “As solicitações passaram a chegar via WhatsApp diretamente para as equipes, com prazos muito curtos, inclusive para ações complexas.”
Este quadro afeta diretamente os colaboradores. “Esta situação está tendo um forte impacto nas equipes, com profissionais em quadro de estresse e muitos até buscando deixar a atividade publicitária”, relata o presidente da FENAPRO. A decisão da FENAPRO, ABAP e da ABRADI de se unirem para fazer este alerta ocorre no momento que a situação atinge um ponto insustentável, e é preciso a cooperação de todas as partes para se manter não só o equilíbrio dos contratos e se buscar um ponto de equilíbrio das demandas, mas, principalmente, para se preservar a saúde mental das equipes.
“As agências sempre buscaram atender demandas urgentes e não programadas, e, inclusive, têm buscado avançar na gestão do trabalho, fazendo uso intenso de metodologias ágeis, que focam nos processos e entregas mais rápidas, bem como na melhoria e no alinhamento da equipe. Mas chegamos a um ponto em que essas pressões ameaçam a operação das empresas”, afirma Mario D´Andrea, presidente da ABAP. “Entendemos que os próprios clientes também enfrentam dificuldades, pressionados pela concorrência e as vendas oscilantes, mas é preciso ter um planejamento mais consistente e equipes preparadas para gerenciar esta situação sem onerar os fornecedores”, defende D´Andrea.
Ele ressalta que “no momento que as empresas falam tanto em compliance e boas práticas, seria importante observar as relações, não apenas com as agências, mas com toda a cadeia, como produtoras de imagem e som, e olharem com atenção ao que se está demandando dos fornecedores em geral. Precisamos evitar que se criem problemas legais e de gestão, principalmente para as empresas de médio e pequeno porte, que não têm estrutura e força para responder às pressões e absorvem as solicitações na tentativa de garantir sua sobrevivência, especialmente neste momento que suas reservas de caixa estão baixas e foram impactadas pela pandemia”.
Para a ABRADI, entidade de classe que defende os interesses das empresas e pessoas desenvolvedoras de serviços digitais no Brasil, o isolamento social imposto pela pandemia do novo coronavírus proporcionou uma nova experiência: o uso constante e quase ininterrupto do mundo digital. Para a entidade, isso precisa ser administrado de uma forma cuidadosa para não chegar no extremo, pois um dos aprendizados do home office para a gestão de pessoas foi que trabalhar de casa não significa estar ao dispor dia e noite para a empresa. E, igualmente importante, a tecnologia não deve estar imposta no espaço do colaborador para vigiar nenhuma ação, como por exemplo, a carga de trabalho.
“Depois que a pandemia impossibilitou o convívio presencial nos escritórios com a atual rotina dos colaboradores, novas regras tiveram de ser criadas para nortear as relações de trabalho. Mais do que suscitar queixas, os excessos, vigilância e demandas abusivas passaram a desmotivar e ameaçar a produtividade”, afirma Carolina Bazzi Morales, presidente da ABRADI.
A FENAPRO já havia alertado, em um dos seus eventos do Chacoalha, que um dos maiores efeitos colaterais do teletrabalho após o início da pandemia foi a super conexão online, responsável pela falta de descanso, acúmulo de serviço – tanto do trabalho quanto dos serviços domésticos e cuidados com os filhos -, dificuldade de separação de horário dedicado ao trabalho e ao convívio com a família e até síndrome de Burnout, em casos extremos. Além dos ajustes nos contratos, a recomendação tem sido a de que as empresas e funcionários estejam atentos a sinais que indiquem que esses casos citados acima possam vir a acontecer. O diálogo deve ser constante para que todas as partes busquem a melhor forma de prevenir o acontecimento dessas ocorrências.