Durante o FEST’UP eu mediei um encontro improvável no território da comunicação, que, de tão improvável, deu certo. De um lado, Ricardo Nicodemos, presidente da ABMRA, trazendo a voz do campo, o cheiro da terra molhada e o suor de quem planta. Do outro, José Lourenço Pechtoll, presidente da Ceagesp, falando de caminhões, corredores abarrotados e uma cidade chamada Ceagesp, por onde 60 mil pessoas passam todos os dias como uma metrópole de alimentos.
O esperado seria um embate: produtor versus logística, campo versus cidade, semente versus concreto. Mas não houve faísca, só sinergia. Foi como se o campo e o entreposto descobrissem que, no fundo, são dois lados da mesma roça.
Nicodemos lembrava que “o agro vai muito além do alface no hambúrguer”. E é verdade: está no biocombustível, no tecido de algodão da sua camisa, na energia que move o país. Já Pechtoll mostrava que não basta produzir, é preciso chegar, e chegar com qualidade, com infraestrutura, com planejamento para uma operação que parece mais um organismo vivo do que um mercado.
A contradição estava na harmonia. Enquanto um falava de raízes, o outro falava de rotas. Enquanto um olhava para dentro da porteira, o outro olhava para fora dela. E, como num jogo de espelhos, entendemos que não existe um sem o outro: de nada adianta plantar sem entregar, de nada adianta entregar sem plantar.
No fim, o painel foi menos um debate e mais um lembrete filosófico: “o agro é a costura invisível que mantém a economia de pé”. Está nos grãos que viram exportação, mas também no jovem urbano que morde um hambúrguer sem saber que ali, entre o pão e a carne, está o Brasil inteiro.
E talvez esse seja o maior desafio: não é só vender para fora, é também explicar para dentro. Aproximar os jovens da cidade, que nunca pisaram em um campo de trigo, mas que vivem todos os dias daquilo que sai de lá.
No palco, percebi que o agro é paradoxal: é antigo e moderno, é local e global, é raiz e é rota. E a contradição, no fim, não divide. Ela une.
