A análise de mais de dois mil depoimentos postados na internet por mulheres em situação de violência embasou a criação do novo site do Instituto Maria da Penha (IMP) – http://www.institutomariadapenha.org.br/ – que entrou no ar no último dia 25 de novembro, quando se comemora o Dia Internacional de Combate à Violência Contra as Mulheres. A data integra o calendário da campanha “16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra as Mulheres”, uma mobilização global da sociedade civil que, no Brasil, acontece entre o dia 20 de novembro, Dia Nacional da Consciência Negra, e 10 de dezembro, Dia Internacional dos Direitos Humanos.
O trabalho começou pela análise de notícias sobre as vítimas e concluiu que a mulher em situação de violência se depara com a frieza dos noticiários e a falta de suporte ao procurar ajuda na internet. Outra constatação foi que os relatos não são expostos em redes tradicionais. São confissões anônimas feitas apenas em ambientes onde a vítima tem a certeza de que não será identificada. Veio, então, o desafio de descobrir onde as mulheres contavam as suas histórias e buscavam apoio. “Deixamos de lado as ferramentas convencionais de pesquisa e utilizamos um método de raspagem de dados e tratamento das informações feito a partir de planilhas e do Gephi”, conta Renata d’Ávila, CSO da F.biz.
Direcionada para a busca por contextos ligados ao universo da violência doméstica – como “meu marido me agrediu” e “estou com medo do meu esposo” -, a pesquisa conseguiu, finalmente, localizar os sites e fóruns – de temas diversos, desde portais religiosos a comunidades sobre família – que são utilizados como canais de desabafos. A coleta dos testemunhos confidenciados nesses espaços apontou alguns padrões de comportamentos: o sentimento de invadir o espaço de outra pessoa (traduzido pela expressão “desculpa o desabafo”) e o acolhimento (demonstrado pela frequência com que os comentários eram feitos).
O passo seguinte foi montar uma rede de palavras. Na parte central, está um dos cenários mais alarmantes: o medo e a desculpa estão relacionados; diversas mulheres relatam agressões durante a gravidez; os filhos são uma preocupação constante na busca por ajuda; “aconteceu comigo” faz parte do processo de aconselhamento.
Quanto maior o tamanho da letra, maior é a frequência com que o termo se repete. Já a proximidade indica as expressões que aparecem juntas mais vezes. As mulheres usam, por exemplo, a palavra “inferno” para descrever o ambiente doméstico cercado por álcool e xingamentos. São apontados ainda: violência psicológica (comentários jocosos); traição (vítimas descobrem a traição do cônjuge); conselho (relatos de histórias que terminam em um conselho para as vítimas); paciência (desejo de superação); religião (Igreja como local de apoio ou justificativa para o perdão); denúncia (aconselhamento sobre a Lei Maria da Penha, boletim de ocorrência e delegacias); e separação (desafios e aflições relacionadas ao divórcio).
“Refizemos o site a fim de que as pessoas possam encontrar um ambiente de acolhimento e amparo às vítimas, seus familiares e amigos. Com pesquisas, relatórios e um campo especial para doação, vamos contribuir para que o Instituto siga ajudando a transformar o cenário de violência no Brasil”, comenta a CSO da F.biz, que apoia a causa há quatro anos e que tomou a iniciativa de rever todo o conteúdo do site. O projeto envolveu cerca de 50 profissionais da agência, que trabalharam voluntariamente durante cerca de dois meses para transformar o site em referência de informações sobre violência doméstica no País.
Duas frentes de trabalho foram criadas para tratar o assunto de uma forma mais humanizada. Uma delas é o conteúdo, que tem o objetivo de: facilitar o acesso à informação e o processo de identificação da violência, trazer recortes do problema (racismo, LGBT etc) por meio de dados e pesquisas, orientar sobre procedimentos diversos, apresentar e explicar políticas públicas, abordar temas de educação sexual e machismo direcionadas ao universo masculino, instruir sobre o apoio às vítimas, e consolidar informações sobre violência doméstica no País.
O outro pilar é o de iniciativas de suporte, que busca: aproximar as mulheres do IMP, criar guias práticos de onde ir, quem procurar e o que fazer depois, dar suporte por meio de profissionais da saúde, apresentar oportunidades de trabalho, conectar mulheres na mesma situação, elaborar textos informativos e educativos para homens, gerar materiais que possam ser compartilhados entre grupos de amigos, preparar textos informativos sobre o apoio às vítimas, produzir materiais que possam ser compartilhados entre a comunidade, diminuir a distância entre a comunidade e o Instituto, desenvolver guias práticos e matérias que auxiliem pesquisadores e estudantes a abordarem o tema de maneira mais empática e humanizada.
De fácil navegação, o site possui três áreas principais: Preciso de ajuda (Lei Maria da Penha e O que é violência doméstica); Quero entender (Ciclo da violência e Tipos de violência); e Quero conhecer (Quem é Maria da Penha e O Instituto). Ele ainda traz a história de Maria da Penha Fernandes, fundadora e presidente do IMP, que sofreu duas tentativas de assassinato pelo marido. A primeira, com uma arma de fogo, que a deixou paraplégica. A segunda, por estrangulamento. Maria da Penha o denunciou e, em 2006, deu o seu nome à lei que trata da criminalização dos casos de violência doméstica no Brasil.
É possível ainda encontrar os projetos e serviços encampados pelo IMP, além de instruções para doação ao instituto. Estão previstas três fases de implementação lançadas de forma gradativa: apresentação da nova identidade visual e estrutura contemplando os conteúdos já criados e enfatizando o Doe, desenvolvimento e inclusão de novos conteúdos; e a oferta de ferramentas de amparo e acolhimento à mulher.
Confira, no link a seguir, o depoimento de Maria da Penha sobre o lançamento do novo site: https://www.instagram.com/p/BqpY8XqB_Xy/
Ficha Técnica:
Mulheres fotografadas
Antonia Aline da Cruz
Bianca Georgia de Oliveira
Carla Rigonati
Danna Lisboa
Dayane Santana
Eliane Paradela Arakaki
Hailey Kaas
Íris Castro
Isadora Nogueira
Lara Magalhães
Larissa Gama
Luciana Tersa Cantarino
Marcela Ohana
Marina Ishikawa
Marlene Gomes da Silva
Melissa Camargo
Monica Gelbecke
Nadia Vieira
Sandra Oliveira Reis
Sheila Oliveira
Tatiana Ávila
Estúdio digital
Daniele Pereira (UI)
Gustavo Terra (UI)
Tatiana Ávila (UX)
Juliana Fernandes (UX)
Luiz Campedelli (Frontend)
Caio Vertematti (Frontend)
Allan Reges (Frontend)
Patricia Jordão (Frontend)
Diogo Souza (Backend)
Eliane Arakaki (Conteúdo)
Weslei Nunes (SEO)
Agnaldo Gonçalves (Agile)
Ana Zolin (Revisão)
Renata Garcia (Revisão)
Victoria Santelo (Revisão)
Ana Beatriz Faria (Tradução)
Ingrid Leão (Cladem)
Insights
Caroline Ferraz
Lais Mendonça
Kelvin Alves
Atendimento
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