segunda-feira, setembro 30, 2024
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Diversidade e inclusão para garantir a representatividade na publicidade

“A publicidade pode ser uma aliada dos povos indígenas – e de tantos outros setores da sociedade – contra a violação sistemática de direitos”. A afirmação é do sociólogo, ativista e professor indígena Jonas Carvalho, do povo Kaixana, na região dos rios Japurá e Solimões, no Amazonas.

Pesquisador das áreas de Linguística e Identidade Étnica, ele lembra que, ao se inspirar na sociedade e na cultura para criar um produto, a publicidade tem o poder de significar e ressignificar imagens, valores e práticas, contribuindo para uma correção histórica da imagem estereotipada de populações menorizadas pelo mercado publicitário ao longo das décadas, como a LGBTQIAPN+, negros e indígenas. Fortalecendo a cultura e a imagem desses povos, a propaganda contribui para o fortalecimento de suas lutas.

Para isso, é fundamental promover espaços de debate e de escuta onde os indígenas, negros, quilombolas, ribeirinhos e outras populações menorizadas pela sociedade tenham não só direito de fala, mas sejam, de fato, ouvidos e tenham suas opiniões respeitadas e consideradas em um processo que inspire a solidariedade ativa e ações inclusivas no mercado publicitário e na sociedade como um todo, defende Jonas.

“Esse estereótipo do indígena, por exemplo, sempre em uma canoa, na floresta, com cocar, não reflete a realidade do ser indígena em todos os espaços que ele ocupa, seja nas aldeias ou nas cidades. Há uma necessidade histórica de correção dessa imagem e a publicidade tem um papel muito importante para a construção de uma publicidade feita, também, a partir da visão dos indígenas e de outros povos retratados”, declarou Jonas Carvalho.

Afinal, a diversidade é um requisito essencial para a construção de ideias mais plurais e potentes, capazes de tornar a publicidade mais criativa, representativa e com maior capacidade de gerar identificação e engajamento junto a uma parcela cada vez menos exclusiva do público, que se depara com os produtos do mercado publicitário nos outdoors, fachadas de lojas, redes sociais, na imprensa e em vários outros momentos de seu dia a dia, lembra o publicitário Luan Rangel.

Com o desafio de construir um mercado publicitário mais representativo, diverso e inclusivo, o primeiro Comitê de Diversidade e Inclusão de agências de publicidade da Região Norte, o SACI (sigla para Somos Ação & Conexão Inclusiva), idealizou uma série de ações para promover debates e trocas construtivas entre diferentes segmentos da sociedade e profissionais ligados à publicidade. O SACI foi lançado pela Varanda Multiagência, empresa sediada em Manaus e com atuação em 12 estados, seis deles da Região Norte.

A discussão sobre a importância do “letramento indígena” do mercado publicitário é apenas uma das vertentes da atuação do Saci, que também promove debates e ações de sensibilização sobre raça, gênero, regionalidades, etarismo, e PCDs, entre outros temas. “O papel do SACI é esse, de trazer pautas essenciais para serem discutidas, auxiliando e promovendo ações que trarão reflexões importantíssimas não só para o mercado, mas para a construção de uma sociedade mais diversa e inclusiva, de fato”, explicou Luan, um dos membros do Comitê.

Também integrante do SACI, a profissional de Letras Jéssica Dandara lembra que a ideia nasceu da iniciativa dos próprios colaboradores da Varanda. Ela destaca a importância de ações como esta para a construção de um mercado publicitário mais inclusivo, que reflita a nossa sociedade, e a desconstrução de estereótipos e práticas segregadoras. “Para o objetivo de fazer o caminho contrário, de não menorizar as pessoas, é que essa iniciativa é importante. O comitê vem para avançarmos ainda mais nessa discussão, nessa perspectiva das questões de raça, gênero, PCDs, sexualidade, etarismo, regionalidade, inclusão e diversidade, que é uma prática já presente na agência há bastante tempo, e que agora ganha ainda mais peso.”

O publicitário Patrick Vidal conta que o impacto que as ações promovidas podem ter na sociedade foi um dos fatores que o inspirou a integrar o comitê. Ele lembra que, quando jovem, pensava ser impossível ocupar certos espaços por conta da cor da sua pele e da condição social de sua família, e destaca a importância de se promover a diversidade no mercado publicitário. “Fornecer iniciativas que possam auxiliar, por exemplo, quem não tem acesso a um ambiente que proporcione um conhecimento ou oportunidade rica, já é uma vitória. É por isso que entrei para o SACI”, declarou. Para ele, iniciativas como essa fazem parte de uma mudança do mercado e de toda a cadeia, com os consumidores se identificando cada vez mais com marcas que pensam na sustentabilidade social e ambiental.

Rodrigo Motta, diretor de Publicidade da Varanda, lembra que o primeiro passo da agência em direção a uma publicidade mais diversa e inclusiva foi a criação de vagas afirmativas, o estímulo à subscrição de pessoas pretas e LGBTQIAPN+ e a realização de eventos que valorizam quem atua pela diversidade. Essa representatividade, por sua vez, se reflete nas ações e produtos da Varanda.

“O trabalho da publicidade é levar a informação certa no momento certo para estimular essa reflexão e lembrar que essas pessoas precisam ser representadas. Por isso procuramos fomentar esse debate sobre diversidade, representatividade e inclusão. Precisamos inserir na nossa cultura, na nossa comunicação, sensibilizar o público para essa realidade. Não buscando o ‘top of mind’, mas o ‘top of heart’”, finalizou.

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