Dizem, sem comprovação, que há um cartaz na NASA com a imagem de uma abelha enorme e com os dizeres:
“Aerodinamicamente, uma abelha jamais poderia voar, mas ela não sabe disso. Ela vai e voa.”
E é exatamente aí que começa a história das mudanças climáticas no agro: o impossível que insiste em acontecer.
As abelhas voam.
Mesmo quando o mundo se aquece.
Mesmo quando a estação muda antes do aviso.
Mesmo quando o néctar some e o campo muda de sotaque.
Esses pequenos seres, tão frágeis aos olhos humanos, carregam o grande código da natureza do agro: polinização, colheita, alimento, ciclo.
E hoje, elas suspiram.
Porque os padrões que existiam não se repetem mais.
As estações que se antecipam.
Os ciclos que escorregam.
É o solo que derrete, a flor que abre cedo demais, o vento que muda de rota e cresce em tornado, o que era impossível décadas atrás. O que a ciência chama de season creep.
A população de abelhas está em queda: “uma provável redução de quase metade das espécies de abelhas nas próximas décadas.”
E quando as abelhas vacilam, o agro sente falta de braço, sente falta de “verde”, de alimento, de voz.
Mas aqui está o paradoxo: as mudanças climáticas são reais e previsíveis.
Sabemos que os eventos extremos vão aumentar, que a geografia do agro vai mudar.
E nessa mudança, há desafio, solo que racha, flor que não floresce na hora certa, e colheita que escapa, no gado que seca.
E há oportunidade, inovação, adaptação, agro que vira tecnologia, agro que reinventa com a ciência de dados e da natureza.
Imagine produtores investigando campos onde plantam flores-cobertura para sustentar abelhas;
Agritechs medindo cada voo de inseto para rastrear fertilidade do solo;
Empresas que dizem: “Se as abelhas morrem, nossa fazenda perde o ar, a cor, o sabor.”
Essas iniciativas já existem.
Porque o agro já entendeu que a abelha-software não substitui a abelha-real, que a Inteligência Artificial não substitui o talento humano que aflora.
Então o agro virá com botas de borracha e chip no bolso.
Plantará flores e instalará sensores.
Regenerará solo e medirá microclima.
Porque sabe que cada abelha que voa é um voto de confiança da natureza.
E que cada abelha que falha é um aviso de que não é só o mundo que muda. É a nossa casa, nosso alimento, nossa economia.
Olhe para as abelhas.
Ouça o zumbido.
Entenda que o limite da mudança climática não é externo.
É interno.
É o campo que tem de se reinventar.
É o agro que tem de voar, mesmo sabendo que, “aerodinamicamente”, talvez não pudesse.
Enquanto ela voa.
E nós?
