Enquanto a cidade de Madri pulsa com a Fruit Attraction, que aconteceu entre os dias 30 de setembro e 02 de outubro, com corredores repletos de frutas e hortaliças exóticas, eu, um correspondente internacional “às avessas”, acompanho a feira a partir do Brasil. Para mim, estar aqui permite sentir o eco do que reverbera por lá.
São mais de 117 mil visitantes de 145 países circulando pelos corredores. Essa multidão se contrasta com minha sala silenciosa, onde miro telas, links, contatos e mensagens. Lá eles provam mamão, maçã e morango; eu provo o feed. Eles apertam mãos; eu aperto teclado. Claro que uso, e abuso, das minhas fontes: clientes, amigos e parceiros que caminham entre os pavilhões de Madri.
A Fruit Attraction é um mapa em movimento, um cruzamento de vozes, rotas e destinos. Foi assim também com Marco Polo, que não apenas viajou: ele inventou rotas, descreveu especiarias e, sem querer, escreveu o manual da globalização medieval.
Hoje, nossos exploradores não enfrentam tempestades no mar, mas sim corredores lotados, negociações digitais, disputas logísticas e muita inovação. O passado tinha bússola; o presente tem crachás, smartphones, inteligência artificial e contratos internacionais.
O agro sempre teve sede de futuro, a diferença é que, hoje, ele viaja de avião e fala inglês, espanhol e mandarim. E nunca foi tão importante abrir novas rotas comerciais, especialmente para diminuir a interdependência dos EUA em tempos de guerras tarifárias.
É nesse espírito que Jonas, Fabio e Carlos se transformam nos Marco Polos contemporâneos do nosso agronegócio.
Jonas Spindel, da NorteFrut, me relata:
“O nosso olhar é buscar insumos, tecnologia e novas rotas comerciais. A Fruit Attraction vem crescendo consistentemente e é uma das feiras mais representativas para o FLV.”
Marco Polo cruzou mares por especiarias e temperos; Jonas cruza estandes por insumos e soluções.
O que eram caravanas no deserto, hoje são contêineres refrigerados atravessando oceanos em busca de novos portos.
Já Fabio Romagnoli, da Fischer Frutas, traduz o espírito expansionista:
“Da Fischer para o mundo, a Fruit Attraction representa uma parcela expressiva das exportações da Fischer da safra 2026 para outros países. Além de reunir muita inovação em termos de embalagem, comunicação visual, novas matérias-primas, as inovações e os rumos do mercado.”
Se Marco Polo levou seda e especiarias à Europa, Fábio leva suco de maçã e fruta fresca ao planeta.
Cada fruta embarcada é um capítulo da diplomacia brasileira, embaixadores da marca Brasil.
Carlos Renato, da Mape Campo Grande, fecha o mapa:
“A Fruit Attraction é o encontro de grandes players, são negócios que atravessam fronteiras e muitas oportunidades para quem está atento a novos mercados.”
Ele fala de players, mas poderia dizer navegadores. Porque quem não busca novos mercados pode ficar à deriva.
Na feira, o mar não é de água, é de oportunidades, e só navega quem sabe remar com estratégia.
Durante a feira acontece o Innovation Hub, com prêmios de biotecnologia, embalagens sustentáveis e logística de frio. “Inovar é bonito. Entregar é obrigatório”, dizem por lá. E os três intrépidos líderes da nossa indústria confirmam: a feira é rota e porto ao mesmo tempo.
Sem inovação não há viagem; sem logística não há chegada. Eu, aqui do Brasil, olho Madri como quem observa o porto de uma cidade distante e percebo que a Fruit Attraction é a Veneza dos tempos modernos: um entreposto que liga culturas, sabores e futuros.
E, como todo bom correspondente internacional às avessas, concluo: Marco Polo se multiplicou em empresários, produtores e visionários que percorrem estandes como antes percorriam mares.
Jonas, Fabio e Carlos carregam consigo o mesmo espírito de descoberta.
No fundo, o agro é a maior viagem da humanidade, porque todo alimento é também uma rota que liga pessoas, continentes e sonhos.
Afonso Abelhão , CEO da BegBee e Presidente da APP.
