Uma marca não nasce de um sopro divino, mas do talento, da persistência e de uma dose generosa de obsessão. Empreender é como ter um filho, só que sem fralda, sem pediatra e com muito mais boletos. No começo, você está lá, cheio de amor e sonhos, com a certeza de que vai mudar o mundo com uma ideia brilhante que surgiu inesperadamente. E então surge o primeiro boleto.
Primeiro, vem o nome. A identidade, a essência, a primeira impressão. Você acha que é só escolher uma palavra bacana e pronto? Aí descobre que isso envolve brainstormings infinitos, referências literárias, análises numerológicas e um inferno burocrático de registros que fazem você duvidar da própria existência. O nome que você ama já pertence a uma rede de pet shop em Osasco. O segundo melhor já virou um aplicativo de namoro vegano. Você quase desiste, mas não pode. Nomear é dar alma. E sem alma, o negócio morre antes de nascer. Mas a alma traz mais um boleto.
Depois, o logo entra no jogo. As cores. O design da embalagem. Precisa ser moderno, mas não óbvio. Clássico, mas inovador. Sofisticado, mas acessível. “Pode ser premium sem parecer caro?” Claro, e unicórnios podem dançar salsa. Criam-se versões, versões das versões, variações infinitas de azul, imperceptíveis a olho nu, mas alguém sempre acha que “esse tom aqui transmite mais confiança”. E transmite mais um boleto.
E aí vem o manual de marca. O tom de voz. Essa criatura recém-nascida fala como? Educada e inspiradora? Ou debochada, cheia de sarcasmo? Ela sussurra, ela grita? Ela manda emojis ou escreve certo? Definir isso é quase uma sessão de terapia: o que essa marca sente? O que ela deseja? O que ela teme? E o que você mais teme chega em forma de boleto.
A pesquisa não para. Quem são as personas? O que elas compram, onde vivem, do que se alimentam? Tudo é mapeado, dissecado, testado. Você entende que pessoas não compram produtos, compram histórias. Então sua marca precisa de uma. Um manifesto. Um propósito. Precisa salvar tartarugas, revolucionar a alimentação, mudar a forma como o mundo enxerga… e você só enxerga boletos.
Criar uma marca é uma mistura de otimismo irracional e masoquismo financeiro. Você acha que vai bombar, que seu produto vai revolucionar o mercado, mas descobre que, antes de revolucionar qualquer coisa, precisa aprender a diferença entre CNPJ e MEI, calcular imposto e aturar aquele amigo que sempre solta um “mas será que isso vende?”. E tome boletos.
Aí vem a realidade. Os fornecedores juram que entregam tudo certinho. Não entregam.
O acordo no PDV ainda não está fechado porque precisa de um enxoval digno da Coroa Britânica. O fornecedor de embalagem pede mais uns dias para enviar a faca e finalizar o arquivo para impressão. A integração do e-commerce, invariavelmente, não integra. E tome mais boletos.
Mas aí… acontece um pequeno milagre. Uma venda aqui, outra ali, uma ação de degustação acolá. O perfil nas redes sociais reflete em números o interesse pela história da marca. Alguém que você nunca viu na vida posta sobre seu produto. Seu nome começa a rodar. Seu negócio vira emprego pra alguém na agência de publicidade, na gráfica, no campo, no supermercado, na agência de promoção, nos veículos de mídia. E você começa a emitir boletos.
O dinheiro começa a entrar. Devagar. Bem devagar. Mas entra. Aí você percebe que já não cabe mais no espaço planejado para os três primeiros anos e faz empréstimos para investir na ampliação da operação. O lucro cresce, o risco cresce, as despesas crescem (no plural mesmo), e aquela epifania que deu origem ao universo da sua marca agora funciona como um ecossistema complexo, onde muitas estrelas, e muitos boletos a receber e a pagar orbitam.
E um dia, no meio de um café qualquer, você escuta um desconhecido recomendando sua marca. E é aí, só aí, que você percebe: caramba, nasceu. Agora é real. Agora é dela, do mundo. Agora, a preocupação não é mais só fazer dar certo. É manter viva. Porque filho nascido é bom, mas marca criada… ah, essa não sai de casa nunca, mesmo conquistando o mundo.
Porque no fim, os boletos são como as batidas do coração de uma marca: enquanto eles chegam, ela está viva. E, assim vamos nutrindo a marca para crescer forte e saudável, e acompanhando esse eletrocardiograma dos boletos.
Assim nasce a Seiva Alimentos, uma marca que nasce pelas asas da BigBee e muitos outros agentes, mas acima de tudo, da obstinação dos seus empreendedores. E que vai disputar espaço num mercado crescente e concorrido de alimentação saudável para nutrir corpo e alma.
Seiva Alimentos. Nutrindo a sua natureza.
Afonso Abelhão é fundador e CEO da agência BigBee. https://www.instagram.com/agencia_bigbee?igsh=MW9tMGU0b3RxOXA3Ng==