Bia Ambrogi, Presidente da APRO+SOM, desdobra as fragilidades do cenário financeiro
“O pilar S do ESG, cada vez mais importante para a Responsabilidade Social Corporativa e melhorar a relação de investidores e prestadores de serviços, pede atenção à política e práticas, no olhar de como a empresa gerencia relações com empregados, fornecedores, clientes e comunidades” – abre Bia Ambrogi, para a discussão do tema.
Com o propósito de estabelecer boas práticas no mercado de áudio publicitário, a APRO+SOM provoca uma mudança de pensamento, incentivando os anunciantes a revisarem as práticas de pagamento, já que a produção criativa não é simplesmente um custo, e sim um investimento para as marcas.
A dor por parte das produtoras é antiga, mas desde 2012, as mesas de compra (ou áreas de procurement) começaram a ganhar mais espaço no Brasil e evidenciaram condições mais estreitas ao mercado de produção criativo, fragilizando a sua performance. Um pouco adiante, a greve de 2015, liderada pela WPP, uma das maiores empresas de publicidade e marketing do mundo, sublinhou a crescente consciência da necessidade de um melhor equilíbrio no fluxo de produtividade da indústria da publicidade e, entre as fragilidades, abordou a mesma questão dos longos prazos de pagamentos.
Mesmo não sendo esta uma demanda recente, a Associação faz agora uma provocação ao mercado para refletir sobre o conflito economicista das empresas contratantes, muitas inclusive parte de grandes conglomerados internacionais, que dão prioridade à eficiência a curto prazo e à redução de custos em detrimento da qualidade criativa e da saúde financeira dos fornecedores de serviços criativos, que em geral são empresas de menor porte, entre eles as produtoras de som.
Mais especificamente, a APRO+SOM salienta o problema de longos prazos das condições de pagamento do setor publicitário que aumentaram 20% nos últimos cinco anos, prejudicando não somente as produtoras, mas promovendo uma indústria instável como um todo. Com os prazos de pagamento chegando em 90, e até 120 dias após a entrega, cresce o impacto negativo sobre o processo criativo, obrigando-as a focar na gestão financeira mais do que na criatividade que, com um impulso insalubre, encontram o autofinanciamento das obras publicitárias como solução.
Vale salientar que os fornecedores das produtoras de som são, em grande parte, pessoas físicas que não conseguem esperar mais de 30 dias para o recebimento. A produção publicitária audiovisual lida com um universo de subcontratações e com um grande percentual de custos imediatos, o que deveria ser um argumento suficientemente forte para justificar que as empresas contratadas deste setor deveriam ter a maior parte do pagamento antecipado desde o momento da aprovação do trabalho.
Para promover mudanças, A APRO+SOM inicia então, uma proposta para debater uma regulamentação que ajude a reduzir esse desequilíbrio do mercado, para que as empresas criativas voltem a receber em até 30 dias, espelhado em modelos estrangeiros que já estão em vigor como o exemplo do Pague em 30 do Chile.
A situação atual sem dúvida precisa ser repensada, pois cria um ambiente precário justamente para quem produz a propriedade intelectual, para quem fornece o serviço que está na base da publicidade e de outras indústrias criativas, levando a uma potencial fuga de talentos e a um declínio nos padrões globais de qualidade. Além disso, incentiva unicamente a concentração de trabalho naquelas produtoras que dispõem de recursos financeiros suficientes para conseguir lidar com os longos prazos de pagamento, limitando a competição e colocando em risco as pequenas empresas.
“Produzir conteúdo audiovisual de alta qualidade requer tempo, talento e recursos. A criatividade precisa de um ambiente propício para acontecer. Sem isso é gerado um ambiente de risco, uma vez que a pressão para lidar com os prazos estendidos muda o foco do trabalho criativo para a gestão financeira, impactando negativamente a qualidade geral das produções. Pagamentos imediatos ou com prazos menores para empresas de menor porte e que entregam criação intelectual são essenciais para uma indústria de produção audiovisual saudável e vibrante. Isso não só beneficia as produtoras, mas eleva a publicidade nacional”, divide Bia Ambrogi, Presidente da APRO+SOM.